O cara loiro precisa de ajuda
Estádio do Morumbi, 16 de janeiro de 1993. No palco do Hollywood Rock, João Gordo faz as honras de apresentar aos fãs “a maior banda underground de todos os tempos”.
O ar é preenchido por uma porrada de ansiedade adolescente. Eram outros tempos: a platéia não estava acostumada a assistir a shows de bandas no auge. E os três garotos no palco estavam menos acostumados ainda com todo aquele recente sucesso.
Começam os primeiros acordes de “School”, que ganha uma versão estranhamente mais lenta e barulhenta. O som está abafado, os instrumentos desafinados e os músicos parecem desconhecer os acordes de suas próprias músicas. Era só o começo de um show que iria dar errado. Muito errado.
Roberto Verta era mais um estudante de Publicidade quando respondeu a um anúncio para a vaga de auxiliar administrativo da gravadora RCA/BMG. O olhar apurado do responsável pelo RH, entretanto, mudou a sorte do garoto que manjava de música e sabia falar inglês.
- Seu Takashi, do RH, disse: “acho que tenho algo melhor para você”.
Quase duas décadas depois, Verta tinha construído uma carreira produzindo álbuns e shows, lidando diretamente com dezenas de artistas representados pela BMG no Brasil. O Nirvana era um deles.
Cerca de 20 dias antes antes da chegada da banda ao Brasil, Verta viajou a Los Angeles para encontrar com John Silva, empresário dos músicos. Dele, ouviu a seguinte recomendação:
- Essa banda é muito diferente das outras, então sem festas, sem carros de luxo e apenas uma entrevista. Se você os convidar para jantar, eles irão, porque gostam de comer de graça!
Não que boca livre fosse uma necessidade. À essa altura, o Nirvana estava no auge da carreira. “Nevermind”, lançado pouco mais de um ano antes, revolucionou o rock e alçou o trio de Seattle a um estrelato para o qual não estava preparado.
O encontro entre Silva e Verta tinha por objetivo definir como seria a atuação da BMG durante a passagem da banda pelo país e estratégias para protegê-la de jornalistas dispostos a tudo por um pedaço dos músicos - ou pelo menos de seu vocalista.
Kurt Cobain, aliás, era uma preocupação à parte. Havia rumores de que o músico estava em uma clínica de reabilitação e havia sido considerada a hipótese dele voltar aos EUA no intervalo de uma semana entre os shows de São Paulo e Rio de Janeiro, ideia que logo foi descartada.
Verta, então gerente de marketing da BMG, estava mais do que preparado para lidar com este tipo de situação.
- O trabalho de estúdio tende a ser um pouco mais tranquilo, porque você “constroi” um disco com uma quantidade de pessoas relativamente pequena (músicos, técnicos, etc.).
Acompanhar uma banda em shows, entretanto, é sempre muito mais intenso.- É mais pauleira, porque envolve muito mais gente e muito mais coisas podem dar errado. Então, uma característica comum entre shows e discos é que o profissional precisa ter sensibilidade e saber lidar com gente.
E Roberto Verta certamente tem essa habilidade.